Números loucos no consumo de açúcar refinado “ladrão de nutrientes” (70 kg por ano per capita ), invenção de “novas más gorduras” hidrogenadas e trans (que substituem as” boas gorduras” nos cérebros das nossas crianças em crescimento), consumos estratosféricos de agro-químicos e aditivos artificiais (que bloqueiam todos os mecanismos metabólicos enzimáticos das nossas células tornando-as “atordoadas”) são só alguns exemplos de como os erros alimentares podem contribuir para o desequilíbrio da comunidade estudantil. Será a obesidade infantil e o mau aproveitamento escolar duas pontas de um “iceberg” com origens comuns?
As raízes deste” iceberg” são complexas e profundas. Têm a ver com a estrutura duma sociedade que apoia uma Indústria Alimentar que tem evoluído no sentido de facilitar o ritmo frenético da vida que levamos e no sentido da satisfação de paladares cada vez mais sofisticados, mas também mais degenerados. A criança deve sentir os paladares originais dos alimentos com limitação nos estímulos intensificadores de sabor (sal e açúcar). Há também uma ligação directa entre o paladar e o desencadeamento de emoções e prazer. Alimentos com sabores viciantes actuam nos mesmos centros cerebrais do prazer que o álcool, tabaco e drogas. O paladar educa-se ou vicia-se, escolham o caminho…
A dissolução deste “iceberg” passará pela educação e sensibilização das nossas crianças desde a mais tenra idade, altura em que mais facilmente se moldam conceitos entre “o que é bom ou é mau” e se cria um esqueleto de estrutura mental que se alicerça para toda a vida. Também têm um enorme poder de induzir nos pais a motivação e a necessidade de mudança para novos comportamentos, antes viciados.
As escolas devem integrar projectos de sensibilização e funcionar como organismos de referência, dando o exemplo de como se pode induzir nas crianças bons hábitos alimentares, fornecendo refeições equilibradas na cantinas e bares. Estamos a passar por um período de alertas para a abertura de espírito das instituições educacionais com propostas de mudanças.
Este é um trabalho lento, progressivo com muitas resistências, especialmente por parte de alguns pais pouco conscientes e colaborantes. Esta mudança deve ocorrer indivíduo a indivíduo…educadores, pais, profissionais de saúde devem reflectir em conjunto no rumo que está a ter a saúde alimentar em paralelo com a “saúde académica” das nossas crianças (um cérebro em formação precisa de bons nutrientes e não de alimentos vazios e toxinas). Inclui relentar ritmos de vida e abandonar hábitos tipo fast-food que abusam das capacidades adaptativas do nosso organismo. Temos sistemas digestivo e endócrino, do “tempo da idade da pedra” não adequados a um estilo alimentar da era da electrónica. Somos uma “máquina” geneticamente similar à do homem das cavernas, mas queremos que tudo se passe na fracção de segundo dum “clik”. A dieta moderna de grande concentração calórica e de muito fácil, rápida absorção e sem resíduos fibrosos é anti-fisiológica e contra a nossa genética. Temos sistemas neuro-hormonais preparados para induzir a sensação de saciedade por contacto desses resíduos com o tubo digestivo, sendo que o estilo alimentar da era actual aborta estes mecanismos de controlo do apetite. Criamos assim um ciclo vicioso com consequências exponenciais e pesados custos para a sociedade. Estamos a criar miúdos hipernutridos caloricamente, mas desnutridos de todos os micronutrientes essenciais ao funcionamento das células nomeadamente as nervosas com as suas óbvias consequências no desempenho escolar. Pensem nisto!
Av. do Cristo Rei nº 23 A - 2800-056 ALMADA - Portugal
212477609|210106716|937289144