Erros alimentares e Insucesso Escolar – Que relação?
2018-08-10
Números loucos no consumo de açúcar refinado “ladrão de nutrientes” (70 kg por ano per capita ), invenção de “novas más gorduras” hidrogenadas e trans (que substituem as” boas gorduras” nos cérebros das nossas crianças em crescimento), consumos estratosféricos de agro-químicos e aditivos artificiais (que bloqueiam todos os mecanismos metabólicos enzimáticos das nossas células tornando-as “atordoadas”) são só alguns exemplos de como os erros alimentares podem contribuir para o desequilíbrio da comunidade estudantil. Será a obesidade infantil e o mau aproveitamento escolar duas pontas de um “iceberg” com origens comuns?
As raízes deste” iceberg” são complexas e profundas. Têm a ver com a estrutura duma sociedade que apoia uma Indústria Alimentar que tem evoluído no sentido de facilitar o ritmo frenético da vida que levamos e no sentido da satisfação de paladares cada vez mais sofisticados, mas também mais degenerados. A criança deve sentir os paladares originais dos alimentos com limitação nos estímulos intensificadores de sabor (sal e açúcar). Há também uma ligação directa entre o paladar e o desencadeamento de emoções e prazer. Alimentos com sabores viciantes actuam nos mesmos centros cerebrais do prazer que o álcool, tabaco e drogas. O paladar educa-se ou vicia-se, escolham o caminho…
A dissolução deste “iceberg” passará pela educação e sensibilização das nossas crianças desde a mais tenra idade, altura em que mais facilmente se moldam conceitos entre “o que é bom ou é mau” e se cria um esqueleto de estrutura mental que se alicerça para toda a vida. Também têm um enorme poder de induzir nos pais a motivação e a necessidade de mudança para novos comportamentos, antes viciados.
As escolas devem integrar projectos de sensibilização e funcionar como organismos de referência, dando o exemplo de como se pode induzir nas crianças bons hábitos alimentares, fornecendo refeições equilibradas na cantinas e bares. Estamos a passar por um período de alertas para a abertura de espírito das instituições educacionais com propostas de mudanças.
Este é um trabalho lento, progressivo com muitas resistências, especialmente por parte de alguns pais pouco conscientes e colaborantes. Esta mudança deve ocorrer indivíduo a indivíduo…educadores, pais, profissionais de saúde devem reflectir em conjunto no rumo que está a ter a saúde alimentar em paralelo com a “saúde académica” das nossas crianças (um cérebro em formação precisa de bons nutrientes e não de alimentos vazios e toxinas). Inclui relentar ritmos de vida e abandonar hábitos tipo fast-food que abusam das capacidades adaptativas do nosso organismo. Temos sistemas digestivo e endócrino, do “tempo da idade da pedra” não adequados a um estilo alimentar da era da electrónica. Somos uma “máquina” geneticamente similar à do homem das cavernas, mas queremos que tudo se passe na fracção de segundo dum “clik”. A dieta moderna de grande concentração calórica e de muito fácil, rápida absorção e sem resíduos fibrosos é anti-fisiológica e contra a nossa genética. Temos sistemas neuro-hormonais preparados para induzir a sensação de saciedade por contacto desses resíduos com o tubo digestivo, sendo que o estilo alimentar da era actual aborta estes mecanismos de controlo do apetite. Criamos assim um ciclo vicioso com consequências exponenciais e pesados custos para a sociedade. Estamos a criar miúdos hipernutridos caloricamente, mas desnutridos de todos os micronutrientes essenciais ao funcionamento das células nomeadamente as nervosas com as suas óbvias consequências no desempenho escolar. Pensem nisto!