SAÚDE MENTAL MODULADA NA INTERFACE ELECTROMA/MICROBIOMA
2023-07-07
As vias de comunicação entre o sistema nervoso e o microbioma intestinal através da interface electroma /microbioma têm impacto na Saúde Mental. |
Por Ana Paula Marum Médica Clinica Geral e Nutrição Clínica Medicina Integrativa e Ortomolecular |
O Bem-Estar Mental implica homeostase neurofisiológica junto com equilíbrio microbiológico do ambiente digestivo, num diálogo mútuo e bidirecional. Implica íntima interconexão da rede bioelétrica humana (“electroma”) com o misterioso mundo microbiano intestinal (microbioma = 1 bilhão de microrganismos por grama de fezes). A teoria do ”Segundo Cérebro”/“Eixo Cérebro-Intestino” tem vindo a ganhar reforço científico com um entendimento crescente dos mecanismos intrínsecos que a suportam. Em 1991 foi descrito o conceito de Holobionte que implica estreita interconexão benéfica hospedeiro/simbionte. Novos conceitos surgiram, como o de Hologenoma que relaciona o genoma do hospedeiro com o genoma do microbioma. Juntou-se ao conhecimento a função da célula enteroendócrina (EEC) como célula sensorial do intestino, intercomunicadora libertando neuropeptídeos, de forma parácrina ou na circulação entérica. Hoje sabe-se que estas células EEC especializadas conectam-se ao microbioma e fazem “sinapses” com as terminações nervosas do nervo vago. São as Neuropods que se estendem desde o epitélio intestinal para células distantes neuronais. Esta é a interface entre o ambiente intestinal, veiculado pela nossa nutrição, e a resposta neurofisiológica, com impacto na Saúde Mental. Esta conexão é mediada por neuropeptídeos que promovem controlo de diversos processos como inflamação, dor, emoções, ânimo, cognição, stress, ingestão e homeostase energética. A disbiose intestinal (redução da diversidade microbiana com aumento dos patobiontes) tem impacto na inflamação sistémica e nas emoções, pela rutura da integridade da barreira intestinal. A consequente translocação de produtos biológicos microbianos, pela lâmina própria para a circulação entérica, ativa o sistema imunitário resultando em inflamação crónica de baixo grau. As interleucinas inflamatórias podem interagir com o hipotálamo, que não só afeta a microglia como ativa o cortisol, via eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (H-H-A), com impacto nas reações de stress.1 Existe evidência de que 90% da serotonina sistémica se origina nas células enterocromafins da mucosa intestinal a partir do triptofano nutricional. A disbiose reduz o triptofano disponível. Sabe-se que o cortisol e os mediadores inflamatórios, aumentados pelo stress, desviam o triptofano da síntese da serotonina para a via da quinurenina, que tem metabolitos neurotóxicos. O reconhecimento do impacto desta interface SNC/ MICROBIOTA na Saúde Mental traz oportunidade para novas abordagens terapêuticas. A mudança para um estilo de vida saudável, que inclui nutrição equilibrada, atividade física e técnicas de gestão do stress é fundamental para regulação desta interface. Mas quando o desvio da Saúde Mental já impacta a capacidade motivacional autoreguladora do paciente, não há capacidade para adesão a novas regras de vida. Nesta fase pondera-se a farmacoterapia. Procurando outras abordagens não farmacológicas, novos estudos têm mostrado que neuromodulação através da aplicação passiva de microcorrentes não invasivas, uma bioelectricidade bioidêntica com a linguagem reconhecida pelo nosso sistema nervoso, é uma forma de intervenção terapêutica que repõe a homeostasia desta interface electroma/ microbioma.
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RESUMO: |
Referências 1.Kaelberer MM, et al. The now and then of gut-brain signaling. Brain Res. 2018 Aug 2.Cheng YC, et al. The efficacy of non-invasive, non-convulsive electrical neuromodulation on depression, anxiety and sleep disturbance: a systematic review and meta-analysis. Psychol Med. 202 |
Artigo publicado na edição de Junho de 2023 da Revista Actual |